quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Para ti

...nessas minhas valas de cera comida me perco, me encontro, bato em esquinas corroídas, em triângulos imperfeitos, guerra, rôo minhas unhas de pitanga madura, cuspo os restos no chão, meus restos, seu chão, reconstrua-me, escrevo por cima de outros rostos, outros restos, pedaços derretidos, um novo inteiro, nessas pedras que formam meu percurso, que me deformam, e sigo assim, sem curso, fujo, peão vadio nesse tabuleiro perdido, num outro tempo, sem tempo, meu, nosso tempo, andarilho em terras não minhas, mas que tomo, e batizo, em nome do norte, do sul, do leste e do oeste, talho novas lembranças, novo passado, em notas dissonantes, acordes novos em tua escala, e te escalo, com meu batalhão de ponte, ataque relâmpago, cortando toda dor com machado frio, cantando meus desprazeres como flor, cachorro bandido perambulando por ruas iguais, poeta prisioneiro de seus próprios versos, sempre em busca, por entre atalhos e desvios,  quando todo o tempo ainda é pouco, quando cada passo parece o último, quando todas as fantasias se convertem em memórias e bato em portas coloridas a procura de tuas tintas, a procura de uma vertente, de um afluente, escorrego por pedras lisas, habito tua ilha, quebro teus muros antigos, desvendo teus símbolos, te tomo como fruta vermelha, te colho, te devoro, e te arrasto nesses labirintos, te perco nesse terreno íngreme, em mim, te moldo com meu barro molhado, te transpasso com todo o meu amor, te reviro, te destilo nesses alambiques vazios, te afogo em minhas rodas d’água,  te salpico com minhas estrelas órfãs, te desejo no inverso dos dias, e espero, e caço, caço uma corrente que me arraste até seu leito, esperando brotar em tua nascente, esperando te encontrar nessas ruelas onde me confundo, e me ato, nesses atos tão despidos de sentido,  nesses atos onde nos despimos sem precisar de nenhum sentido, onde entrelaçamo-nos liquefeitos até uma foz em comum, até meus pés cansados darem nalguma trilha que me permita te alcançar, até meus calos seguirem trilhos de ferrugem em busca de tua fumaça, até minha voz cantar a tua, até o azul se tornar negro, o negro, amarelo, e o amarelo desaguar novamente nessas tuas piscinas azuis, onde mais uma vez mergulho, e afundo, e insurjo, e de novo imirjo, tomada assim por tuas luzes, procurando não achar, seguindo algum fluxo que me leve para qualquer lugar, para lugar nenhum, para o meu lugar, para ti...

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