segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Lumos maxima

...e brilhamos, sem saída, sem entrada, perdidos, partidos, fora de tudo, dentro de nosso próprio mundo, dentro de mim, dentro de nós, não saia, não me solte, devore o que é seu, deixe-me mergulhar nessas suas piscinas azuis, deságua em mim, desemboque em meu açude, me transborde, me tome, não há mais ninguém, anacrônicos, isso só existe em nós, para nós, nosso encanto, nosso segredo, sinta o barulho de nossos corpos soltos no tempo, no atemporal, ouça o vento nessa pele que agora é nossa, uma só, um só, só nós dois, teime comigo quando eu fugir, me aperte mais se eu quiser soltar, me mostre algo novo, embrenhe-se por minhas trilhas, deixe-se levar por minhas armadilhas, caia na minha corrente e então te arrasto, te atraio com meus passos, te levo, te amo, te devoro com meus sorrisos que saltam dos olhos, te tomo direto no gargalo, deixa o sol levar a gente, vem comigo por esse mar de versos mortos, por esses poemas despedaçados, venha ver como eu te imprimi em tinta só para impregnar-me mais de ti, olha que Apolo já vai lá longe, olha que o azul está rubro, olha que vejo as cores nesse teu rosto queimado, olha o quadro que vai se formando, as nuvens como efêmeros riscos como que postos ali por acaso, o laranja-rosado que vai deixando espaço para o breu, olha o resto de luz que nos acende, olha que nesse escuro não consigo olhar você e então somos novamente formas e sombras, tateando cegos por um rio de sentidos, sem sentido, montando as lufadas desse ar traiçoeiro, atirando com facas em tudo o que não tenha nós, enlouquecendo nessa pista onde o inverso é tão belo, e te miro com meus olhos redondos, te espio de cima, de baixo, de dentro, te espio e pio em teus ouvidos coisas inintendíveis, grunhidos para a noite, para o deserto, e confundo teu corpo com o meu e perco meu corpo no seu e caço tuas mãos e as enlaço com as minhas, nosso segredo, nosso sagrado, nosso templo, nossa magia, beirando o surreal, como um sonho flutuante, esperando a hora de acordar, esperando não ter que acordar, sem esperar nada, sem esperanças, içamos as ancoras, a deriva, meu bem, naufragados nessa ilha sem amor, sozinhos nessa ilha, só com nosso amor, chicoteando o desejo na areia branca, encardindo nossos pés nesse barro sujo, esculpindo-nos como uma coisa só, te derramo numa xícara como líquido bem quente, te sorvo bem devagar, submerjo nas tuas águas bem lentamente, e toda a dor some, tudo o mais se encaixa quando eu me encaixo em você, todo o resto se ajeita quando você se ajeita em mim, tudo some quando sumimos um no outro, nada mais importa quando só o que importa são nossos dedos impacientes percorrendo cada curva desse emaranhando em que nos transformamos, emanando por cada poro nossas solidões, unindo-as, formando um inteiro, nosso complexo, nossas brumas, nossos pratos que esvaziamos famintos, e me pergunto se tudo aconteceu realmente, me pergunto se tudo seria da mesma forma se fosse repetido, me pergunto quantas vezes mais eu o amaria, me pergunto quando o para sempre vai começar, quando tudo vai descolorir, quando vamos decair e ficar depositados no fundo do copo, resquícios do que fôramos, do que somos, do que seremos, eternamente sobre essa abóboda felpuda que nos cobre, eternamente sobre esse cobertor azul clarinho onde rolamos como um só, eternamente nesse tempo que não é tempo, mas já é sem tempo de irmos em busca de um outro tempo, onde já não se conte mais o tempo, onde só haja tempo pra gente se amar, onde só haja você e eu, onde possamos inventar nossos sonhos, colorir nossos olhos com as tintas um do outro, esquecer de tudo, lembrar de tudo, olhar cada detalhe sem se preocupar, sem espaços entre nós para se preencher, sem nada para nos pressionar, apenas nós, apenas nossos cantos, nossos acordes, nossos risos, nossos passos, apenas nós e o vento e o céu e o mar, apenas nós nesse recanto, nesse encanto, sem pensar, sem nada que nos faça franzir a testa, apenas rugas nos cantos dos olhos, apenas bochechas coradas e conchas grudadas no suor, apenas tua nascente abrindo caminho por minha terra, fluindo em mim, me inundando, tornando-me inteiramente seu curso, seu mundo, seu tudo, seu, sua, meu, nosso, com nada, sem tudo, só você mergulhado em meu posso, só você estendido em mim nessas margens, marcando a areia molhada com nossa forma, nos salgando para depois nos beber, só você e eu, enquanto o caminho dourado cai em nós, enquanto tudo cai em volta de nós, enquanto o sorriso do gato se abre para nós, e o pasto surge, e tudo o mais some, e o mar fica reluzente e nos banha com sua ponte de luz, mostrando a mim tua pele translúcida, minha pele de ouro, e enquanto todo o resto se apaga, nós brilhamos...

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