segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Tudo azul


Tudo azul. Sorri antes de desligar. Meu. Eu disse. Meu. Chove o azul. Mas já chovia aqui dentro. Já chovia em seus azuis. A saudade é azul. Chora o céu. É tanto amor que arde. Incendeia. E venham as águas para aquietar, venham as águas para tomarem seu lugar, venham as águas e que tragam para mim os seus azuis. Nada passa nesses dias sem glória. Minhas tempestades são claras e demoradas. Lentas e dramáticas, assim como eu. Mas você gosta. Gosta de se molhar, de se espremer nesses espaços tão apertados entre meus becos não azuis. Poderia eu fugir do azul? Tento. Mas está ele em cima, em volta, no meio, dentro. Tudo é azul e já não enxergo nada mais, apenas teus malditos azuis. Ateio fogo nessas lembranças, aqueço meu coração, aquieto. Fujo e permaneço. Meus passos se enterram, já não tenho mais saída. Qualquer que seja o rumo que eu tome estão lá os teus azuis, eterno aviso de que não há escape. Cego-me então. Já não me permito ver o céu e seus nuances de azul. Já me são proibidas as ondas e tudo o mais que for azul. Mas ele me encontra, persegue. E vejo espalhados na parede esses azuis, vejo desejo, vejo anseio, vejo tudo o que não queria ver. Não é fácil negar o azul. Maldita cor. Tão linda. Tão linda. Porque mexes tanto com meu coração, querido azul? Não vês que busco novos tons, outros matizes? Não vês que nessas vésperas o céu já vai rosado e que essas nuvens tão ralas já não se tingem de azul? Em resposta clareira azul abre no céu. Não creio. Eu digo. Loucura. Proclamo. Porque não posso ficar, é morte. Porque não posso partir, é vida. Porque a chuva é muito lenta e não leva nada embora, só trás. Já vejo o que não há. Em cada lento momento desses dias sem fim, eu me deparo com um novo azul a me apontar as coisas que fiz, as coisas que quis e o que já não posso mais. Recolho-me na escuridão, que no fundo é apenas azul marinho, triste fera solitária dos fundos. Já não existo mais, mas ele não me deixa ir. Mergulho. Quanto mais fundo, mais azul. Bonito é quando clareia, ah quando o azul clareia. Aquele azul pós tempestade, aquele que forma vincos em volta quando sorri, aquele azul que fica tão azul ao sol. Já não chove, consigo ver o azul por cima dessa camada de nuvens tão macias, mesmo que ninguém mais o veja. É azul o fogo que me corta, me gela. São azuis os deuses que me castigam. Azul é o meu amor e também toda, toda, essa dor. Então eu lembro. Lembro e ponho para fora um sorriso todo azul. Um sorriso todo meu. Todo seu. E já não me importo que meu corpo se tinja de azul quando encontra o teu. Já não me cego, vejo como é bonita essa vida azul. Como são bonitas as minhas dores. Tomo cafés azuis, respiro azul e gosto. Gosto sim. Tudo azul. Bestas de grandes dentes azuis me devoram. Permito. De meus cortes saem azuis, vomito azul, escrevo azul. Meu Deus, quanto azul. Me espanto, de onde veio tanto azul? Aprisiono então todo o azul do mundo, enjaulo essa cor tão atroz, engulo todo esse azul profundo e já não me espanto. Descobri-me azul também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sentiu?