segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Último dia do ano


Essa é a ultima hora do ultimo dia do ano. Nos fins e começos fico propensa à grandes nostalgias. Inicio então uma oração, para todos os que esperam as luzes no céu, para todos que não esperam nada, para todos. Peço, e nessa hora me invade lembranças de tudo o que amo, muita luz, muita paz, muitos além, que nesse ano não haja barreiras entre os sonhos, que não haja limites, que haja amor sem fim. Agora não aguento e choro. Talvez por tudo o que não fiz, por tudo o que fiz, pelo que quero fazer. Me sinto tão boba aqui, sozinha, no ultimo dia do ano. Mas então vão me recorrendo todos esses outros 364 dias em que estive com meus amores, com meus prazeres. Não é o ultimo dia do ano que define tudo. Fui feliz, fui perversa, fui vadia, fui linda, fui burra, tive tantas caras e farsas que nesse dia, o ultimo do ano, só peço para conseguir me achar. Esse é o risco de ser tantas coisas. Esse é o risco de vestir tantas caras, de sorrir risos alheios. Não sei desapegar desses meus monstros, meus pequenos, cativos, dramas. E rompem meus olhos essas lagrimas que saem limpas. Minhas lagrimas. Quão doces elas me parecem. Choro minhas dores, minhas alegrias. Choro porque amo a dor, porque preciso sofrer para me sentir viva. E retorno para minha prece, rogo pelos vadios, pelos que parecem lixo nas calçadas, sem donos, sem modos, humanos crus, resto de vida. Rogo pelos corações despedaçados, pelos olhos sem brilho, pelos escravos dos vícios, pelos desalentados. Nesse dia, o ultimo do ano, choro dores que não são minhas, mas que tomo pra mim, e espero assim, que em algum lugar do mundo, alguém ria um riso que, no começo, talvez não lhe pertença, mas que depois se transforme em algo louco, um riso escancarado, talvez até sem dentes, mas que rasgue o peito e rompa nos olhos, um riso que sacuda a alma, que faça esquecer, que faça lembrar. Desejo, mais que tudo, que o amor possa reinar, que as famílias possam reviver, que os amigos possam se abraçar. E mais uma vez choro, não há como falar em amigos, ainda mais no ultimo dia do ano, sem chorar. Me bate, nesses inícios e fins, uma vontade louca de proclamar o amor, de fazer uma grande loucura, de viver, mais que tudo, de viver. Assim termina minha oração. Nesses últimos 30 minutos do ultimo dia do ano. Que todos possam viver. Que em cada peito, aberto, gelado, ferido, vazio, magoado, possa queimar muitos fogos, destruindo todo o lixo, tornando tudo limpo e que deixe espaço para todo amor que virá nesse novo ano.

2 comentários:

  1. Sim, senti. Senti só de saber que esse era um texto que falava de fim de ano, mas não do fim desse ano que estamos agora, mas de um anterior. Sabia que sentiria, que alguma palavra me tocaria, alguma sensação, alguma memória. E lendo, percebi: é um erro deixar de retroceder os outros dias (não para viver do passado mas) para melhorar o ser e viver também melhor.
    Tua prece foi realmente comovente. Encontrei-me entre uma das pessoas por quem orou. Às vezes me perguntava como orar aos outros e tu me respondestes. É simples: imaginar e sentir, mais uma pitada de sinceridade no pedido.
    Espero que tenha vivido mais em dois mil e ter-se. Espero que eu viva mais em 2014 e aqui motivei-me a escrever uma espécie de retrospectiva (a que vier no meu coração).

    Mais voos a você, Alice.

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    1. Não sabe o quanto me fez bem saber que minha prece foi ouvida, mesmo que um ano depois. Nesse ano novo, renovarei minhas orações e que tenhamos muitos e muitos voos, Andorinha.
      Obrigada. Muito obrigada, mesmo.

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